Vandalismo, baderna, revolta, indignação
popular, revolução social. O nome não importa agora. Mas é o assunto do
momento. Que se agiganta e intriga a todos, indistintamente: políticos de
esquerda e de direita, jornalistas, todas as mídias, cientistas políticos, historiadores,
pessoas comuns. Todos buscam entender e explicar o movimento que começou quase
trivial; a partir de um protesto de estudantes de São Paulo contra o aumento de
R$0,20 nas tarifas dos transportes públicos, mas que se espalhou rapidamente
como uma epidemia por várias capitais do Brasil, como Rio de Janeiro, Belo
Horizonte, Brasília, Maceió e Salvador. A mobilização é tamanha que já se tem
notícia de mobilização até fora do Brasil. Brasileiros que vivem na Espanha,
Los Angeles, Nova York, foram às ruas manifestar seu apoio ao movimento.
Tá bonito de se ver. À parte uma minoria que
extrapola, danificando prédios públicos e históricos, o movimento segue pacífico
e crescente. E emociona. Literalmente vestidos com a bandeira do Brasil, os
manifestantes – em sua maioria, jovens - seguem “caminhando e cantando”,
exibindo suas mensagens em cartazes, palavras de ordem e no corpo pintado. É
bonito e emociona. Afinal, há mais de vinte anos não se via tamanha mobilização
nacional. E não podia acontecer em melhor hora: os olhares do mundo inteiro
estão sobre o Brasil, em função dos eventos internacionais esportivos (Copa das
Confederações – em curso -, Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016),
além da Jornada Mundial da Juventude prevista para julho próximo. Estamos sob
os holofotes do mundo.
A mim, além de emocionar, a
marcha renova e restaura uma fé quase perdida no povo e nas instituições
brasileiras. E me leva numa volta ao passado recente, em 1992, com a queda do
presidente Fernando Collor de Melo. Naquele momento histórico, vimos o povo
brasileiro alterar as regras do jogo democrático. Primeiro presidente eleito pelo
voto direto após o fim da ditadura, Collor caiu por vontade popular. Sem golpe
e sem interferência militar, o mesmo povo que o elegeu o tirou do poder.
Naquela época, “o movimento das caras-pintadas” tomou as ruas em passeatas num
exercício de democracia plena, mesmo que recém-conquistada.
Impossível não associar um
movimento ao outro. A exemplo de 92, novamente é o povo pelo povo. Um povo
cansado de mais do mesmo, desiludido, frustrado. No seu limite de tolerância,
de impotência e de apatia diante das instituições que deveriam representá-lo –
todas elas, em todas as esferas de poder.
O inconformismo é geral: com a
educação, a saúde, o transporte, a segurança. O protesto em SP foi a gota que
faltava, o estopim do movimento que estava aí; latente, mas que ninguém
percebia.
Não sou especialista e nem tenho
a pretensão de oferecer uma resposta ao que está acontecendo, mas me parece
claro que a grande mensagem é esta: falta de representatividade legítima. Não
apenas formal e legal, mas efetiva, de um povo, de uma nação. Até nos atos
descritos como de “vandalismo” pela mídia é possível identificar uma mensagem,
um simbolismo, já que os alvos são os prédios públicos e históricos; ou seja;
representativos de poder.
Talvez não seja tudo isso. Ou
seja mais que isso. Ainda é cedo pra antecipar qualquer desfecho ou resultado
deste movimento. Mas, independente do desfecho, das perdas e ganhos deste
momento histórico que estamos vivendo, uma coisa é certa: uma mudança está
acontecendo. Esta mensagem é clara. E precisa de uma resposta à altura por
parte das nossas instituições. Ao que
parece, os governos estão perplexos, ainda sob o impacto da grandeza da
mobilização.
E enquanto isso, como uma
epidemia, a mobilização cresce e se expande, chegando até às cidades do
interior, num exercício de solidariedade nacional, como a dizer: “Tamo junto”.
Aqui no Espírito Santo não está
sendo diferente. Foi bonito ver a passeata ontem - até onde sei; pacífica. A
terceira ponte mais linda ainda, congestionada, mas desta vez por pessoas a pé,
num coro só; fogos colorindo o céu de Vitória e Vila Velha, as pessoas nas
varandas dos prédios aplaudindo, cantando junto com os manifestantes, outros
descendo as ruas e agigantando o movimento. Por alguns minutos a vida parou, a
rotina mudou por aqui. Eu precisei de alguns segundo pra me refazer da emoção.
Hoje a vida segue, na expectativa
de uma resposta. Quem sabe os vinte centavos de real, que estamos tão
acostumados a descartar, dado o seu pouco valor no mercado de troca, não venha
a ser, no futuro, nossa “moedinha da sorte”, símbolo de uma nova era, um novo
Brasil.
Como bem disse uma jovem na
passeata, “o gigante acordou”. Que acordem também nossas instituições! Que
respondam; e rápido, às reivindicações, mais do que legítimas, de seu povo.
Vanda Souto. 18/06/13.
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