terça-feira, 18 de junho de 2013

A gota que faltava


Vandalismo, baderna, revolta, indignação popular, revolução social. O nome não importa agora. Mas é o assunto do momento. Que se agiganta e intriga a todos, indistintamente: políticos de esquerda e de direita, jornalistas, todas as mídias, cientistas políticos, historiadores, pessoas comuns. Todos buscam entender e explicar o movimento que começou quase trivial; a partir de um protesto de estudantes de São Paulo contra o aumento de R$0,20 nas tarifas dos transportes públicos, mas que se espalhou rapidamente como uma epidemia por várias capitais do Brasil, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Maceió e Salvador. A mobilização é tamanha que já se tem notícia de mobilização até fora do Brasil. Brasileiros que vivem na Espanha, Los Angeles, Nova York, foram às ruas manifestar seu apoio ao movimento.

 Tá bonito de se ver. À parte uma minoria que extrapola, danificando prédios públicos e históricos, o movimento segue pacífico e crescente. E emociona. Literalmente vestidos com a bandeira do Brasil, os manifestantes – em sua maioria, jovens - seguem “caminhando e cantando”, exibindo suas mensagens em cartazes, palavras de ordem e no corpo pintado. É bonito e emociona. Afinal, há mais de vinte anos não se via tamanha mobilização nacional. E não podia acontecer em melhor hora: os olhares do mundo inteiro estão sobre o Brasil, em função dos eventos internacionais esportivos (Copa das Confederações – em curso -, Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016), além da Jornada Mundial da Juventude prevista para julho próximo. Estamos sob os holofotes do mundo.

A mim, além de emocionar, a marcha renova e restaura uma fé quase perdida no povo e nas instituições brasileiras. E me leva numa volta ao passado recente, em 1992, com a queda do presidente Fernando Collor de Melo. Naquele momento histórico, vimos o povo brasileiro alterar as regras do jogo democrático. Primeiro presidente eleito pelo voto direto após o fim da ditadura, Collor caiu por vontade popular. Sem golpe e sem interferência militar, o mesmo povo que o elegeu o tirou do poder. Naquela época, “o movimento das caras-pintadas” tomou as ruas em passeatas num exercício de democracia plena, mesmo que recém-conquistada.

Impossível não associar um movimento ao outro. A exemplo de 92, novamente é o povo pelo povo. Um povo cansado de mais do mesmo, desiludido, frustrado. No seu limite de tolerância, de impotência e de apatia diante das instituições que deveriam representá-lo – todas elas, em todas as esferas de poder.
O inconformismo é geral: com a educação, a saúde, o transporte, a segurança. O protesto em SP foi a gota que faltava, o estopim do movimento que estava aí; latente, mas que ninguém percebia.

Não sou especialista e nem tenho a pretensão de oferecer uma resposta ao que está acontecendo, mas me parece claro que a grande mensagem é esta: falta de representatividade legítima. Não apenas formal e legal, mas efetiva, de um povo, de uma nação. Até nos atos descritos como de “vandalismo” pela mídia é possível identificar uma mensagem, um simbolismo, já que os alvos são os prédios públicos e históricos; ou seja; representativos de poder.

Talvez não seja tudo isso. Ou seja mais que isso. Ainda é cedo pra antecipar qualquer desfecho ou resultado deste movimento. Mas, independente do desfecho, das perdas e ganhos deste momento histórico que estamos vivendo, uma coisa é certa: uma mudança está acontecendo. Esta mensagem é clara. E precisa de uma resposta à altura por parte das nossas instituições.  Ao que parece, os governos estão perplexos, ainda sob o impacto da grandeza da mobilização.

E enquanto isso, como uma epidemia, a mobilização cresce e se expande, chegando até às cidades do interior, num exercício de solidariedade nacional, como a dizer: “Tamo junto”.
Aqui no Espírito Santo não está sendo diferente. Foi bonito ver a passeata ontem - até onde sei; pacífica. A terceira ponte mais linda ainda, congestionada, mas desta vez por pessoas a pé, num coro só; fogos colorindo o céu de Vitória e Vila Velha, as pessoas nas varandas dos prédios aplaudindo, cantando junto com os manifestantes, outros descendo as ruas e agigantando o movimento. Por alguns minutos a vida parou, a rotina mudou por aqui. Eu precisei de alguns segundo pra me refazer da emoção.

Hoje a vida segue, na expectativa de uma resposta. Quem sabe os vinte centavos de real, que estamos tão acostumados a descartar, dado o seu pouco valor no mercado de troca, não venha a ser, no futuro, nossa “moedinha da sorte”, símbolo de uma nova era, um novo Brasil.

Como bem disse uma jovem na passeata, “o gigante acordou”. Que acordem também nossas instituições! Que respondam; e rápido, às reivindicações, mais do que legítimas, de seu povo.

Vanda Souto. 18/06/13.



Nenhum comentário:

Postar um comentário