sexta-feira, 28 de junho de 2013

A importância da validação

João não valida João. Maria não valida Maria. Mas João valida Maria - e vice-versa. Ou seja: mesmo sabendo, João precisa ouvir de Maria que ele tem valor, que é um homem capaz, que é bonito, eficiente, etc. e tal.
Então somos todos inseguros? Sim; sem exceção. Precisamos ser legitimados, aprovados constantemente pelo outro – pai, mãe, irmão, namorado, amigo. Mesmo o profissional mais competente, a mãe mais dedicada, o irmão mais companheiro, o ator mais famoso, a mulher mais bonita; todos, indistintamente, precisam ser validados, reconhecidos e justificados constantemente.
A validação é um processo decorrente da nossa relação com o outro. E auto validação não existe. Nossa segurança vem do outro; assim como a do outro depende de nós. Simples, óbvio e...complicado assim, já que vivemos num mundo onde predomina a competição, o consumismo e o poder. Onde não cabe reconhecer que somos dependentes do outro, sob pena de sermos tachados como fracos. E, justamente por falta de validação, cresce a dominação e o poder a qualquer preço. Caímos “na cilada” de acreditar que precisamos ter poder para sermos legitimados.
Uma pena, pois tudo seria muito mais fácil se aceitássemos que somos fortes e fracos, corajosos e inseguros, por vezes egoístas, frágeis, feios. Enfim; completos na nossa incompletude. Dependentes  dos outros; humanos.
Validar alguém é dizer “eu te amo”´, “Gosto de você”. “Você é importante pra mim”. “Você é capaz”. Outras vezes basta um abraço, um elogio, um sorriso. Atitudes simples que justificam uma vida, dando-lhe significado e valor. É gostar de alguém pelo que ele é e fazê-lo saber disso. Um simples exercício que, se praticado rotineiramente com quem está próximo de nós, na nossa vida cotidiana, contribuiria para um mundo menos inseguro e melhor.
Então não espere mais: Valide alguém hoje; por mais inseguro que você se sinta agora!

Vanda Souto – Junho/13.

terça-feira, 18 de junho de 2013

A gota que faltava


Vandalismo, baderna, revolta, indignação popular, revolução social. O nome não importa agora. Mas é o assunto do momento. Que se agiganta e intriga a todos, indistintamente: políticos de esquerda e de direita, jornalistas, todas as mídias, cientistas políticos, historiadores, pessoas comuns. Todos buscam entender e explicar o movimento que começou quase trivial; a partir de um protesto de estudantes de São Paulo contra o aumento de R$0,20 nas tarifas dos transportes públicos, mas que se espalhou rapidamente como uma epidemia por várias capitais do Brasil, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Maceió e Salvador. A mobilização é tamanha que já se tem notícia de mobilização até fora do Brasil. Brasileiros que vivem na Espanha, Los Angeles, Nova York, foram às ruas manifestar seu apoio ao movimento.

 Tá bonito de se ver. À parte uma minoria que extrapola, danificando prédios públicos e históricos, o movimento segue pacífico e crescente. E emociona. Literalmente vestidos com a bandeira do Brasil, os manifestantes – em sua maioria, jovens - seguem “caminhando e cantando”, exibindo suas mensagens em cartazes, palavras de ordem e no corpo pintado. É bonito e emociona. Afinal, há mais de vinte anos não se via tamanha mobilização nacional. E não podia acontecer em melhor hora: os olhares do mundo inteiro estão sobre o Brasil, em função dos eventos internacionais esportivos (Copa das Confederações – em curso -, Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016), além da Jornada Mundial da Juventude prevista para julho próximo. Estamos sob os holofotes do mundo.

A mim, além de emocionar, a marcha renova e restaura uma fé quase perdida no povo e nas instituições brasileiras. E me leva numa volta ao passado recente, em 1992, com a queda do presidente Fernando Collor de Melo. Naquele momento histórico, vimos o povo brasileiro alterar as regras do jogo democrático. Primeiro presidente eleito pelo voto direto após o fim da ditadura, Collor caiu por vontade popular. Sem golpe e sem interferência militar, o mesmo povo que o elegeu o tirou do poder. Naquela época, “o movimento das caras-pintadas” tomou as ruas em passeatas num exercício de democracia plena, mesmo que recém-conquistada.

Impossível não associar um movimento ao outro. A exemplo de 92, novamente é o povo pelo povo. Um povo cansado de mais do mesmo, desiludido, frustrado. No seu limite de tolerância, de impotência e de apatia diante das instituições que deveriam representá-lo – todas elas, em todas as esferas de poder.
O inconformismo é geral: com a educação, a saúde, o transporte, a segurança. O protesto em SP foi a gota que faltava, o estopim do movimento que estava aí; latente, mas que ninguém percebia.

Não sou especialista e nem tenho a pretensão de oferecer uma resposta ao que está acontecendo, mas me parece claro que a grande mensagem é esta: falta de representatividade legítima. Não apenas formal e legal, mas efetiva, de um povo, de uma nação. Até nos atos descritos como de “vandalismo” pela mídia é possível identificar uma mensagem, um simbolismo, já que os alvos são os prédios públicos e históricos; ou seja; representativos de poder.

Talvez não seja tudo isso. Ou seja mais que isso. Ainda é cedo pra antecipar qualquer desfecho ou resultado deste movimento. Mas, independente do desfecho, das perdas e ganhos deste momento histórico que estamos vivendo, uma coisa é certa: uma mudança está acontecendo. Esta mensagem é clara. E precisa de uma resposta à altura por parte das nossas instituições.  Ao que parece, os governos estão perplexos, ainda sob o impacto da grandeza da mobilização.

E enquanto isso, como uma epidemia, a mobilização cresce e se expande, chegando até às cidades do interior, num exercício de solidariedade nacional, como a dizer: “Tamo junto”.
Aqui no Espírito Santo não está sendo diferente. Foi bonito ver a passeata ontem - até onde sei; pacífica. A terceira ponte mais linda ainda, congestionada, mas desta vez por pessoas a pé, num coro só; fogos colorindo o céu de Vitória e Vila Velha, as pessoas nas varandas dos prédios aplaudindo, cantando junto com os manifestantes, outros descendo as ruas e agigantando o movimento. Por alguns minutos a vida parou, a rotina mudou por aqui. Eu precisei de alguns segundo pra me refazer da emoção.

Hoje a vida segue, na expectativa de uma resposta. Quem sabe os vinte centavos de real, que estamos tão acostumados a descartar, dado o seu pouco valor no mercado de troca, não venha a ser, no futuro, nossa “moedinha da sorte”, símbolo de uma nova era, um novo Brasil.

Como bem disse uma jovem na passeata, “o gigante acordou”. Que acordem também nossas instituições! Que respondam; e rápido, às reivindicações, mais do que legítimas, de seu povo.

Vanda Souto. 18/06/13.



sexta-feira, 14 de junho de 2013

Amor: O que é; o que não é.


 “Amor é uma amizade que pega fogo; É fogo que arde sem se ver; É um não sei quê; que surge não sei de onde, dói não sei por que e acaba não sei como”.
Amar é dar vexame, é ficar vulnerável, é esquecer-se de você mesmo.
É ser forte e frágil, alegre e triste, simples e complexo, inteiro e aos pedaços, completo e inacabado, inseguro e cheio de convicção. É ousar, é apostar tudo, é esquecer a razão.
Quantas tentativas de traduzir o amor! Todas tão inúteis quanto verdadeiras, já que nenhuma esgota o conceito de amor.
Não há consenso sobre o amor. Talvez porque amor se sente; não se explica; não na sua totalidade e intensidade. Historiadores, poetas, músicos, filósofos, psicólogos, todos; desde sempre vêm tentando traduzir este sentimento que se impõe a nós como uma necessidade fisiológica, mas que não nos permite a compreensão da natureza da sua essência.
Indefinível na sua intensidade, mas NECESSÁRIO: assim é o amor. Uma palavrinha de poucas letras, mas de múltiplos significados na língua portuguesa: amor físico, amor platônico, amor materno, amor à vida. Ou ainda: afeição, compaixão, empatia, atração, paixão, conquista, querer bem, desejo, vínculo emocional, sexo, etc.; etc. e tal.
A temática do amor é comum e recorrente. Creio que é próprio do amor esta brincadeira de fugir às traduções. Eu o vejo como um mutante, um delicioso farsante. Que aparece como e quando quer, nos surpreendendo, desestruturando nossa rotina, nossa vida, injetando adrenalina, tirando o sono, o sossego, acalmando ou bagunçando tudo, virando do avesso; travesso.
Quer coisa melhor? Eu não conheço. Então eu me basto em sentir, experimentar o amor.  Aí meu corpo o traduz: na minha pele, no brilho do meu olhar, no meu jeito de andar e de falar, no meu cantarolar...tudo em mim o denuncia...
Mas uma coisa é fato: apesar da impossibilidade de tradução literal e da intensidade deste sentimento essencial à nossa vida, tá cada vez mais fácil dizer eu te amo. Vivemos tempos de amores e amizades virtuais, fluidas, voláteis, líquidas e efêmeras, e na carona de tudo isso, o amor virou moeda de troca. Ficou banal. Mas eu te amo; definitivamente, não diz tudo. Se ilude quem cai nesta cilada. O amor de verdade, pra valer mesmo, tá muito mais associado a atitudes do que a palavras doces – não que ele não careça delas - mas vai muito além delas...
A verdade é que ama-se e desama-se facilmente. Romances ardentes esvaem-se como fumaça em pouco tempo, com a mesma falsa intensidade com que começaram.
Mas, então, afinal; o que é o amor? Aquele dos contos de fada, dos romances, das histórias que nos contaram...Esvaiu-se com o tempo? Perdeu-se na história recente?
Claro que não. Mas, talvez, hoje, seja mais fácil distinguir o que não é amor:
Controle sobre o outro é amor? Manter o outro dependente emocional e financeiramente é amor? Palavras bonitas sem atitude correspondente é amor; bastam? Limitação das ações e potenciais do outro em nome da relação é amor? Conveniência é amor? Comodismo é amor? Possessão é amor?
 Definitivamente; não, não e não! Mas quantos casais vemos assim; reféns de seus “amores travestidos”; outros, conformados em “uma vida inteira de tranquilo desespero”.
Serão eles vítimas – ou cúmplices - de uma vida moderna agitada, competitiva, superficial, veloz e fugaz? Quem sabe...
Estamos vivendo um mundo novo; isso eu sei. “Nunca antes na história” se testemunhou tantas mudanças em tão pouco tempo. Mas será que fomos tão impactados assim que mudamos nossa forma de sentir e expressar amor? Está acontecendo uma releitura do amor?
Se sim; vou continuar na contramão da história, acreditando que certos valores e sentimentos, de tão intensos, fortes e verdadeiros, são imortais e imutáveis; como a esperança, a fé e o amor.
Entender o amor é tão difícil quando não se está amando e tão fácil quando estamos apaixonados, que quase chega a ser óbvio. Quem ama, sabe. Quem é amado, sente. Ponto.
Mas...sempre tem um mas...que ninguém se iluda: é preciso amar-se primeiro para amar alguém. Ou melhor: é preciso ter sido amado, mais; ter apreendido e exercitado o amor. Ou seja; o amor precisa estar antes em mim para extrapolar-se para o outro. E vice-versa, numa troca justa. Isso vale para todas as formas de amor. Simples e complicado assim.
Então será esta a medida do amor? Amar-se primeiro? Não sei, mas com certeza é um bom começo. Recentemente vi em um programa de TV que nossa capacidade de amar tem relação direta com o tipo de carinho, amor e atenção que recebemos na infância; assim como das relações cultivadas e construídas ao longo da nossa vida. O que me levou a concluir que o amor é prática, é exercício cotidiano, é aprendizado. E, consequentemente, pode ser melhorado e aprimorado – ou não! – só dependendo da nossa vontade e disposição.
Teorias, conceitos e devaneios à parte, eu acredito que somos todos calouros, aprendizes eternos do amor. Especialmente em relação ao amor homem/mulher. É um exercício de aprendizado que não se esgota, não tem fim.
Minha regra de ouro: o amar não se contenta com migalhas – nem mesmo do próprio amor! Ou seja: é preciso estar inteiro numa relação de amor.
Claro que não é fácil. Se fosse não seria tão sublime!
E; definitivamente: amar não é pra qualquer um:
É para quem acredita nos sonhos; é para quem se atreve; se arrisca; aposta no improvável; se expõe; é para quem tem coragem – mesmo que muitos achem exatamente o contrário; defendendo que viver sozinho é a grande aventura de uma vida, não sabendo eles que amar é aventurar-se no desconhecido, é construção e descoberta; sempre! É “ficar nu” – literal e metaforicamente - para o outro. É se permitir ser, finalmente e corajosamente, quem a gente é; e deixar que o outro também o seja. E amá-lo mesmo assim.
O amor é exigente. Suga a gente. Mas não se impõe; ele acontece apenas e somente quando deixamos – ou o merecemos. E, na sua sutileza de lince, quase sempre nos surpreende, porque não nos damos conta da sua proximidade, nem da “permissão” mútua, recíproca, que antecede a sua chegada. É quase como mágica. Mas sem truques, natural, que preenche corpo e alma por dias, meses e anos, ou “eternamente enquanto dure”, sua prática, lembranças e memórias.
Amar demanda disposição, permissão e cuidado, mas quem ama sabe: cada olhar de cumplicidade, cada beijo, cada toque de pele, cada sorriso – mesmo os de canto de boca, quase irônicos -; cada noite mal dormida a enrolar-se e desenrolar-se nos lençóis trocando carícias; cada briga – e o amor depois da briga -, cada troca...faz todo o investimento valer a pena!
Por tudo isso e muito mais, já que o tema não se esgota, eu concluo que o amor, como o sinto e acredito, pode ser forte e definitivo como a morte. Mas é mais, muito mais do que sorte.
Feliz dia dos namorados!!!!!
12/06/13.
Vanda Souto.

“A vida só é vida quando é vivida por duas vidas em uma só vida.”