sábado, 18 de julho de 2015

“O rosto do desemprego” no Brasil


O “rosto do desemprego” no Brasil foi mostrado ontem em números pela mídia e em uma bela – apesar de triste - obra do artista plástico Eduardo Cobra, que; na tentativa de “fazer alguma coisa”, estampou em um grande mural na cidade de São Paulo o rosto de um desempregado emoldurado por currículos de toda “sorte” de profissionais à procura de emprego.
Os números são alarmantes; a obra ímpar. Que impacta e impressiona pela iniciativa inédita e por dar “cara” e nome a números – talvez na tentativa de tangibilizar dados, mostrando que por trás de tantos dígitos – que há tempos perderam o poder de nos impressionar -  se escondem pessoas como eu e você.
O “rosto do desemprego” na figura gigante daquele desempregado ao lado de tantos currículos choca: Numa visão ampliada, impõe-se aos nossos olhos o flagelo que estamos vivendo no Brasil. Ali naquela enorme parede profissionais das mais variadas funções pedem socorro. Desfilam diante dos nossos olhos todas as categorias: operários de chão de fábrica, engenheiros, arquitetos, professores; gente! Seres humanos, pessoas reais, de carne e osso, que têm fome de tudo, mas principalmente de dignidade.
A arte estampada naquele grande muro choca porque provoca um sentimento imediato de “podia ser eu”; ou pior; pode vir a ser eu ali, desnudo, exposto.
Para mim aquela pintura na parede extrapola o conceito de arte: eu vejo ali um gigantesco espelho que reflete muito mais do que o rosto de Adriano, um jovem desempregado. Para mim aquela obra escancara o flagelo de nossas instituições, porque o “rosto do desemprego” hoje no Brasil se chama corrupção, propina, descaminho e mais e mais corrupção.
Lamentavelmente, o “rosto do desemprego” se chama exclusão – na forma de desânimo, decepção e desilusão de milhões de brasileiros que caíram na “cilada” de acreditar no sonho. Sim; porque se num passado recente a “esperança venceu o medo”, há muito ela bateu asas e voou para longe, muito longe do Brasil. Alguns dizem que ela (a esperança) mora em 2016 (os mais otimistas); para a maioria, em 2018. Para outros, ela comprou passagem só de ida.
O “rosto do desemprego” (nos números impressionantes e na gigantesca obra), revela, expõe, grita a divisão, omissão, tristeza e destruição. E o pior: ampliando mais o olhar, mostra também muito conformismo e até mesmo negação.
O “rosto do desemprego” mostra muito mais do que a cara de um “gigante” - que de gigante só tem mesmo os destroços de suas instituições - agora nuas do que deveriam ser e do que realmente são: A vergonha de uma nação.
O “rosto do desemprego” mostra as entranhas de sucessivos “desgovernos”, infelizmente legitimados nas urnas pelo contribuinte/ cidadão.
É fato; não cabe mais negação: O “rosto do desemprego” mostrou a verdadeira cara – inchada, corroída e destroçada – há tempos cuidadosamente camuflada e escondida nos escombros de uma complicada estrutura institucional que se pretendia Representativa de um povo sofrido e sedento de tudo, até mesmo de autoestima.
Do lado de cá, quero muito crer que finalmente “caiu a máscara”; “caiu o pano”, “fecharam-se as cortinas”, anunciando o fim deste “espetáculo de horrores” que virou o Brasil. “Nunca antes” talvez seja exagero, mas acho que se chegou ao limite, esgotou-se este modelo vergonhoso de Plano de Poder travestido de Plano de Governo.
Aparentemente até aqui nada disso estava muito claro e o artista desenhou, escancarou! Puxou o pano! Aleluia e parabéns para ele! Mostrou que cada um de nós, a seu modo, pode e deve fazer alguma coisa.
O país finalmente “está nu”.
Então, vamos esperar mais o que? “Falência múltipla de órgãos”, inclusive de seu povo?

“Brasil; mostra a sua cara! ”, pedia o poeta há exatos 25 anos atrás.
 “O tempo não para, não para não...”

Vanda Souto – Julho/2015
Veja o vídeo da reportagem em Jornal da Globo, 17/07/15. 
http://g1.globo.com/jornal-da-globo/edicoes/2015/07/17.html?fb_ref=Default#!v/4330251

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Mulher contemporânea: um tiro no pé?


“A mulher sábia edifica o lar”, diz o provérbio 14.1. Ou seja; é a estrutura do lar, cabendo a ela ser responsável, temente a Deus, carinhosa, prestativa, educada, generosa, sábia, prudente, respeitadora, comportada, amorosa. E por aí vai...é o que reza a bíblia, a fé e a crença popular. Ufa!
Ufa nada! Na contramão de tudo isso, a mulher, não satisfeita com a lista de atribuições acima, resolveu reivindicar “igualdade” de gênero, já que o senso comum e as religiões (em sua maioria, até onde eu sei), pregavam que ao homem cabia, primária e essencialmente, ser o “provedor” da família – entendendo “provedor” como aquele que dá o sustento com o propósito de garantir a sobrevivência da família pelo trabalho fora de casa remunerado. E ponto.
Lavar louça? Trocar fralda? Ir às reuniões de escola; levar ao médico, ensinar dever de casa; cozinhar, lavar, passar; etc.; etc. e tal? Nem pensar; não é “coisa de homem”! E disseminou-se na história que o papel da mulher era menor, ou seja; o homem, enquanto provedor, era o todo poderoso; a mulher, eterna coadjuvante; cuidava do "resto".
E assim a história se manteve por séculos, “cada um no seu quadrado”. Até que; passado muito tempo, a mulher foi, aos poucos, revendo seu papel e reivindicando mais “direitos” (não sem muita luta) e, aparentemente, conseguiu a tão cantada em prosa e verso igualdade de gêneros.
E chegamos até aqui: Hoje, a mulher contemporânea “tá podendo”! Trabalha, é dona de casa, estudante, mulher, mãe...às vezes pai, provedora, etc. e tal. Tudo junto e ao mesmo tempo.
Então... Parabéns pra nós!?!
Nem tanto. Eu; que já andei uma boa estrada nesta vida, e me incluindo no universo da mulher contemporânea, penso que esquecemos alguns detalhes nesta conquista inegável e necessária à mulher. Basta olharmos ao redor pra constatarmos a mágica que as mulheres conseguiram nas últimas décadas em termos de conquistas sociais.
Mas...sempre tem um mas... a que preço? Será que conquistamos direitos ou simplesmente acumulamos funções?
Que me desculpe quem pensa diferente, mas tendo a acreditar mais na segunda hipótese. E convido as mulheres a analisarem comigo a nossa rotina: Como chegamos ao fim de cada dia? Mais ou menos cansadas que outrora; antes de “dividirmos” com o homem TODAS; TODAS as atribuições de uma vida familiar, pessoal e profissional? Será que a gente está dividindo mesmo? De forma igual? Sinceramente; penso que não. Principalmente porque nossa sociedade ainda vê a mulher como no antigo provérbio citado acima. Ou seja; os males que desestruturam as famílias e as sociedades ainda moram dentro de casa e a pergunta que todo mundo faz quando alguma coisa está “fora da ordem”, é: quem é a mãe daquela pessoa, daquela família? E morremos todo dia um pouquinho por isso: quando um filho não vai bem na escola; quando adoece; quando o marido “apronta”; quando um irmão se desentende com o outro, quando falta dinheiro, etc.; etc. e tal.
Ou seja; ganhamos alguma autonomia e liberdade,sim; mas acumulamos responsabilidades mil. E; como “camaleoas” – no bom e mal sentido – vamos nos disfarçando, nos multiplicando, nos sobrecarregando, para chegarmos ao fim de cada dia exaustas, culpadas e infelizes com tantas cobranças; especialmente as nossas.
Será que era isso mesmo que a gente queria ou foi um “tiro no pé? ”Claro que não, a mulher merece e pode ser tudo isso: mãe, profissional, mulher, enfim; o que quiser; já provou isso muito bem. Mas penso que talvez seja hora de repensarmos nosso papel nesta “roda louca da vida” a que nós mesmas nos impusemos. Será que não extrapolamos? Aparentemente, o homem apenas cedeu. Ok; você quer ir à luta; então vai, ele disse, num acordo tácito - ou numa aposta tática, vai saber. Então; vencemos pelo cansaço.; Será? Não sei, o que eu sei é que nós fomos, felizes da vida, conquistar nosso espaço lá fora! Mas, ingênuas, esquecemos de negociar a contrapartida, a parceria fundamental e necessária para tanto. E deu no que deu. Stress total!
Eu não sei quanto a você que me lê, mas eu sinto que precisamos desacelerar ou renegociar nossas conquistas – não confundir com retroceder nesta questão tão importante; histórica para as mulheres. Começando por ouvir os homens nesta questão; dividindo com eles a nossa aflição. "Renegociando" com ele o pacote completo; deveres e direitos - de cada um nesta equação.Que tal começarmos por reconhecer que não somos a “mulher maravilha” e propormos uma parceria menos desigual? Até porque não creio que os homens estão realmente satisfeitos com esta nova mulher tão dividida, culpada e cansada. Ao contrário, o que eu estou vendo atualmente são relações cada vez mais frágeis, instáveis e voláteis; resultado de homens e mulheres extremamente cansados, vivendo uma maratona, uma competição. Claro que há exceções, mas como são raras ainda hoje! Quem sabe não é chegada a hora de “descer do salto”, rever as coisas, fazer um "mea culpa", buscarmos um acordo pacífico onde um cede aqui; o outro ali; e todo mundo ganha: a família, a igreja, o homem, a mulher, enfim; a sociedade em geral.
Quem sabe não é por aí.
Vanda Souto – maio-15.