O
“rosto do desemprego” no Brasil foi mostrado ontem em números pela mídia e em uma
bela – apesar de triste - obra do artista plástico Eduardo Cobra, que; na
tentativa de “fazer alguma coisa”, estampou em um grande mural na cidade de São
Paulo o rosto de um desempregado emoldurado por currículos de toda “sorte” de
profissionais à procura de emprego.
Os
números são alarmantes; a obra ímpar. Que impacta e impressiona pela iniciativa
inédita e por dar “cara” e nome a números – talvez na tentativa de tangibilizar
dados, mostrando que por trás de tantos dígitos – que há tempos perderam o
poder de nos impressionar - se escondem
pessoas como eu e você.
O
“rosto do desemprego” na figura gigante daquele desempregado ao lado de tantos
currículos choca: Numa visão ampliada, impõe-se aos nossos olhos o flagelo que
estamos vivendo no Brasil. Ali naquela enorme parede profissionais das mais
variadas funções pedem socorro. Desfilam diante dos nossos olhos todas as
categorias: operários de chão de fábrica, engenheiros,
arquitetos, professores; gente! Seres
humanos, pessoas reais, de carne e osso, que têm fome de tudo, mas
principalmente de dignidade.
A
arte estampada naquele grande muro choca porque provoca um sentimento imediato
de “podia ser eu”; ou pior; pode vir a ser eu ali, desnudo, exposto.
Para
mim aquela pintura na parede extrapola o conceito de arte: eu vejo ali um
gigantesco espelho que reflete muito mais do que o rosto de Adriano, um jovem
desempregado. Para mim aquela obra escancara o flagelo de nossas instituições, porque
o “rosto do desemprego” hoje no Brasil se chama corrupção, propina, descaminho
e mais e mais corrupção.
Lamentavelmente,
o “rosto do desemprego” se chama exclusão – na forma de desânimo, decepção e
desilusão de milhões de brasileiros que caíram na “cilada” de acreditar no
sonho. Sim; porque se num passado recente a “esperança venceu o medo”, há muito
ela bateu asas e voou para longe, muito longe do Brasil. Alguns dizem que ela
(a esperança) mora em 2016 (os mais otimistas); para a maioria, em 2018. Para
outros, ela comprou passagem só de ida.
O
“rosto do desemprego” (nos números impressionantes e na gigantesca obra), revela,
expõe, grita a divisão, omissão, tristeza e destruição. E o pior: ampliando mais o olhar, mostra também muito conformismo e até mesmo negação.
O
“rosto do desemprego” mostra muito mais do que a cara de um “gigante” - que de
gigante só tem mesmo os destroços de suas instituições - agora nuas do que
deveriam ser e do que realmente são: A vergonha de uma nação.
O
“rosto do desemprego” mostra as entranhas de sucessivos “desgovernos”, infelizmente
legitimados nas urnas pelo contribuinte/ cidadão.
É
fato; não cabe mais negação: O “rosto do desemprego” mostrou a verdadeira cara –
inchada, corroída e destroçada – há tempos cuidadosamente camuflada e escondida
nos escombros de uma complicada estrutura institucional que se pretendia
Representativa de um povo sofrido e sedento de tudo, até mesmo de autoestima.
Do
lado de cá, quero muito crer que finalmente “caiu a máscara”; “caiu o pano”, “fecharam-se
as cortinas”, anunciando o fim deste “espetáculo de horrores” que virou o
Brasil. “Nunca antes” talvez seja exagero, mas acho que se chegou ao limite,
esgotou-se este modelo vergonhoso de Plano de Poder travestido de Plano de
Governo.
Aparentemente
até aqui nada disso estava muito claro e o artista desenhou, escancarou! Puxou
o pano! Aleluia e parabéns para ele! Mostrou que cada um de nós, a seu modo,
pode e deve fazer alguma coisa.
O
país finalmente “está nu”.
Então,
vamos esperar mais o que? “Falência múltipla de órgãos”, inclusive de seu povo?
“Brasil;
mostra a sua cara! ”, pedia o poeta há exatos 25 anos atrás.
“O tempo não para, não para não...”
Vanda
Souto – Julho/2015
Veja o vídeo da reportagem em Jornal da Globo, 17/07/15.
http://g1.globo.com/jornal-da-globo/edicoes/2015/07/17.html?fb_ref=Default#!v/4330251
http://g1.globo.com/jornal-da-globo/edicoes/2015/07/17.html?fb_ref=Default#!v/4330251